A importância do esoterismo para o iniciado

Antes de adentrarmos ao assunto em referência, para a construção do raciocínio pretendido é necessário tecer alguns comentários de forma preliminar.

Inicialmente, expõe-se a assertiva do autor Nicola Aslan na obra “Comentários ao Ritual de Aprendiz”[1]:

“A Maçonaria apresenta dois aspectos que lhe conferem duas personalidades muito distintas: o exotérico e o esotérico:

1. O primeiro, o exotérico ou jurídico, assegura-lhe a sua qualidade de sociedade civil perante os poderes públicos e trata da organização do governo da instituição, através de leis e regulamentos mais ou menos semelhantes aos das demais associações profanas.

2. O segundo, o esotérico, que é o mais importante, confere-lhe o seu aspecto de associação moral e espiritual, única razão de ser da instituição maçônica. Trata-se dos Ritos Iniciáticos, da liturgia, e também do ensino simbólico, esotérico e filosófico da Ordem. Este ensino não obedece a programas previamente organizados, não tem regulamentação determinada e nem leis escritas”.

Do trecho acima é possível extrair as duas concepções e distinções entre os termos exoterismo e esoterismo, que em linhas gerais, segundo o autor, o primeiro se refere a algo amplo e externo em relação à Ordem, como seu conjunto de normas, enquanto o segundo é estrito ao membro da Instituição, visto estar intimamente ligado às questões de ordem litúrgica e filosófica, especialmente.

Segundo às definições de Oxford Languages and Google, o significado filosófico das palavras foi assim descrito:

Exotérico. Diz-se dos ensinamentos e doutrinas que, nas escolas da Antiguidade grega, eram transmitidos em público.

Esotérico. Diz-se do ensino que, em certas escolas da Grécia antiga, destinado a discípulos particularmente qualificados, completava e aprofundava a doutrina.

Percebe-se que as definições filosóficas remetem às instituições da antiguidade, em especial a escola grega, cujos ensinamentos eram conferidos mediante Ritos e Símbolos, considerando o gesto e a encenação muito mais eloquentes que a linguagem propriamente dita.

Nos dias atuais, onde a ciência se faz presente em todos os domínios e resulta na evolução do conhecimento humano para proporções inimagináveis, ao invés de forçar um aprendizado estritamente técnico e literário, a Maçonaria manteve os hábitos de transmissão do conhecimento via Rituais, Símbolos e Palavras, não modificando sua finalidade que, tal como ocorre na religião, responde à anseios de religiosidade e de espiritualidade inatos ao ser humano.

Mas isso não quer dizer que não houveram evoluções na forma de passarmos os ensinamentos adiante. Isto porque, o progresso tecnológico e a necessidade de acelerar a transmissão do conhecimento fez com que diversos mecanismos fossem criados para propagação da filosofia maçônica. A instrução mais generalizada, por exemplo, conta com o auxílio de diversos livros e de autores distintos para que de uma forma esclarecedora fosse possível expurgar as ideias obsoletas, as superstições e crendices que desacreditavam a Ordem perante a elite intelectual contemporânea.

No entanto, por mais que os ensinamentos possam ser transmitidos de forma mais abrangente mediante tais fontes de pesquisa, sabe-se que ele (o ensinamento) não será recepcionado de maneira aprofundada, justamente por depender, em termos de Maçonaria, da aplicação stricto sensu da sua filosofia, ou seja, sua aplicação somente terá a finalidade atingida quando direcionada ao Maçom de forma individual – de forma esotérica.

É dizer que, por mais abrangentes que sejam os Rituais Maçônicos, estes não podem transmitir todo o conhecimento iniciáticos e todos os ensinos doutrinários, explicando apenas uma parte mínima, justamente para forçar que o Iniciado empregue seus próprios esforços para compreender por si mesmo o significado dos Símbolos e Palavras. Esta é a interpretação esotérica da Maçonaria, feita exclusivamente pelo Maçom.

A separação entre o racionalismo positivado – que em minha concepção se refere à imposição da razão pré-definida à todos – e o simbolismo é necessária para que o Maçom não limite suas ações àquilo que lhe for ministrado, pois a essência maçônica vista sob a ótica esotérica tende a impulsionar o aprendizado dos membros da Ordem e instá-los ao progresso pessoal, que em muitas ocasiões acaba caindo no esquecimento pela ausência de prática durante uma sessão regular.

O trecho de autoria desconhecida publicado no blog Freemason.pt e replicado no website da Loja Maçônica Cotinguiba[2] segue nesse sentido:

“(…) E assim, repletos de saber positivo e científico, numerosos Maçons passaram a desprezar o simbolismo, tão ligado às religiões, acabando por abandonar o seu estudo, e esta ciência, sagrada noutras épocas e essencialmente iniciática, tornou-se, para a maioria, letra morta. Desta forma, embora todos entrem para a Maçonaria pela porta da Iniciação, poucos são dotados com a necessária predisposição de espírito para compreendê-la, continuando nela com o mesmo sistema de vida, as mesmas preocupações e objetivos meramente profanos. (…)”

No artigo ao qual o trecho acima fora extraído, o autor afirma que as Lojas foram pouco a pouco esquecendo-se dos ensinamentos simbólicos e esotéricos, reproduzindo uma Iniciação inteiramente despojada dos seus objetivos de aperfeiçoamento intelectual e moral iniciais, formando-se meras sociedades filantrópicas e de mútuo socorro.

Todavia, ouso discordar deste posicionamento controvertido, pois se a essência maçônica é voltada ao conhecimento esotérico, não cabe às Lojas apenas a apresentação de significados simbólicos e filosóficos, tampouco o mero ensinamento de Toques e Palavras. Essa concepção é retrógrada e faz com que os novos membros, cada vez mais, percam o interesse na Ordem, pois a própria instituição contribui para a criação de tais expectativas nos Iniciados. O próprio Maçom tem se esquecido que o ensinamento lhe será ministrado a partir da sua própria busca do novo e não apenas de instruções dadas por seus Irmãos.

A expectativa criada pelo Iniciado deve cessar tão logo seja admitido nos Augustos Mistérios, pois a partir de então este fará parte integrante da engrenagem maçônica e será detentor de obrigações perante seus Irmãos e a sociedade que vive. Deve, por sua vez, contribuir para o fortalecimento das colunas da Loja em que propôs sua admissão, visando o progresso coletivo e a proliferação da essência maçônica que descobrirá, pouco a pouco, mediante seus próprios esforços, utilizando-se da Loja tão somente como um apoio e uma fonte indicativa da direção a percorrer.

E para efetivar sua contribuição é importante que o Iniciado se apresente à Loja para difusão do conhecimento, por ser o ensino de forma não escrita necessário à compreensão dos usos e costumes da Fraternidade.

Sábias foram as palavras registradas por Albert G. Mackey em sua “Encyclopaedia”[3], assim traduzidas:

“(…) Nenhum Maçom consegue chegar, nos nossos dias, a uma situação mais ou menos notável dentro da Fraternidade se não for suficientemente instruído. Se os seus estudos se limitarem, ao que ensinam em sumárias instruções da Loja, não lhe será possível apreciar com exatidão os fins e a natureza da Maçonaria como ciência especulativa. As instruções não passam do esqueleto da ciência maçônica. Os músculos, os nervos e os vasos sanguíneos, que devem ainda animar este esqueleto sem vida e dar-lhe beleza, saúde e vigor, estão contidos nos comentários dessas instruções que o estudo e as pesquisas dos escritores maçônicos proporcionam ao estudioso em Maçonaria. (…)”

Em outra oportunidade Mackey[4] também afirmou:

“(…) Investigando-se a evolução da Maçonaria, e estudando-se os pormenores do seu sistema de simbolismo, verificou-se estar ela tão intimamente ligada com todas as épocas do mundo, que força a mente à imediata convicção de que nenhum Maçom pode esperar compreender inteiramente a sua natureza, ou apreciar o seu caráter como ciência, sem dedicar-se, com muito trabalho e assiduidade, ao estudo do seu sistema.

A perícia que consiste na repetição fluente e precisa das instruções usuais, com obediência a todos os requisitos usuais do Ritual, ou no dar, com bastante cuidado, dos meios de reconhecimento determinados, pertencem tão somente aos rudimentos da ciência maçônica.

Existe, porém, uma série de doutrinas mais nobres, com as quais a Maçonaria está ligada… Elas serão a recompensa do estudioso que se dedica à tarefa de investigá-las e um magnífico prêmio para o seu labor.

A Maçonaria considerada como ciência, e não mais, como o foi por tempo demasiadamente longo, como uma simples instituição social, ocupa atualmente um lugar à parte e inconteste entre as ciências especulativas. (…)”

Portanto, volta-se novamente à atenção quanto à forma de busca do conhecimento colocado à disposição pela Maçonaria, sendo preferível a observância de maneira individual quando tratar-se do aprofundamento das questões filosóficas e simbólicas, já que os Rituais nos apresentam apenas o ponto de partida.

Dessa forma, não se pode responsabilizar apenas à Loja acerca da quantidade e qualidade dos ensinamentos, muito menos aqueles encarregados diretamente pela instrução, pois a maior parte do aprendizado está ligada aos anseios do Iniciado e à sua procura pela Verdade. As ferramentas são fornecidas pela Ordem, mas a construção do Templo é tarefa exclusiva dos Obreiros. Este é o ensinamento esotérico que ao meu ver devemos trabalhar antes de mais nada.

Or de São Paulo, 18 de fevereiro de 2021 – E V

Ir Matheus Lemos dos Santos – M M

Fontes de Pesquisa:

https://lojamaconicacotinguiba.com.br/novo/2019/09/20/exoterismo-e-esoterismo-na-maconaria/ – Conteúdo acessado em 18/02/2021;

http://diariodecuiaba.com.br/ilustrado/exoterismo-e-esoterismo-na-maconaria/431106 – Conteúdo acessado em 18/02/2021;

http://solepro.com.br/Artigos/Maconaria/Quem%20foi%20Albert%20Mackey.pdf – Conteúdo


[1] Aslan, Nicola. Comentários ao Ritual de Aprendiz – Vade Mecum Iniciático. Editora Maçônica A Trolha: 2006.

[2] https://lojamaconicacotinguiba.com.br/novo/2019/09/20/exoterismo-e-esoterismo-na-maconaria/

[3] A Encyclopaedia of Freemasonry é uma obra publicada em 1.873 (Vol. 1) e 1.878 (Vol. 2)

[4] Trecho extraído da obra Symbolism of Freemasonry, editado em 1.869

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